História

De onde minha paixão pela culinária veio

De onde minha paixão pela culinária veio

Memórias da família 4 minutos de leitura

Quando eu era criança, minha mãe estava sempre trabalhando, dia e noite, literalmente todos os dias da semana e eu me lembro dela cantando hinos antigos como “eram cem ovelhas juntas no aprisco”, enquanto trabalhava… Na grande maioria das vezes ela trabalhava na nossa cozinha e para estar perto dela, eu também passava uma grande parte do meu dia na cozinha. Foi assim que minha paixão por comida e o desenvolvimento de minhas habilidades culinárias começaram. Ela me ensinou a cozinhar desde muito cedo, mas a sua história foi muito diferente da minha…

Quando criança e adolescente, minha avó não permitia que minha mãe ajudasse no preparo das refeições. “Você vai aprender a cozinhar quando você casar”, ela dizia… Mas, quando minha mãe se casou e se tornou a única responsável por todas as refeições da família, numa época em que não existia Internet e Google, ela penou…

Às vezes ela fazia comida suficiente para alimentar um batalhão, às vezes a comida faltava; às vezes a comida ficava mal cozida, às vezes ela deixava queimar; às vezes ficava sem sal, outras vezes ficava salgado… Para piorar a situação, minha mãe tinha que terminar todas as refeições super pontualmente, porque meu pai tinha horários de trabalho muito rígidos e muitas vezes o relógio estava contra ela.

Mas minha mãe sempre foi batalhadora e ela superou os desafios iniciais da cozinha majestosamente. Quando eu me tornei parte da familia, quase uma década depois, minha mãe já tinha se tornado “uma cozinheira de mão cheia”, como diziam… Ela não somente alimentava nossa família com uma comida caseira maravilhosa, como também se tornou a cozinheira da escola ao lado da nossa casa, uma profissão que ela manteve quando nos mudamos da fazenda para a cidade até ela se aposentar. Se isso não bastasse, minha mãe também fazia uma grande variedade de comidas por encomenda, como bolos, roscas, tortas, massas e salgadinhos para ajudar a complementar a renda familiar.

Não importa o quão maravilhosa a comida da minha mãe ficasse, ela sempre pensava numa maneira de torná-la melhor. “Da próxima vez vou adicionar um pouquinho mais disto, vou colocar um pouquinho menos daquilo, vou bater por mais tempo, vou cortar mais fino, vou assar um pouco menos ou um pouco mais”… Acho que essa é a razão dela ter se tornado uma cozinheira tão incrível! E quando ela encontrava as medidas perfeitas, a metodologia perfeita, o tempo perfeito, ela compartilhava com todos que estivessem interessados ao redor dela, apesar de ter vivido em uma época e sociedade onde as pessoas adoravam manter seus segredos culinários para si mesmas… Eram as famosas “receitas de familia” que voce só aprendia se fosse filha de quem sabia!

Houve um tempo em que eu sentia pena da minha mãe por ela ter tido uma vida de tanto trabalho e tão poucas oportunidades de descanso e férias. E agora que ela poderia viajar, ela não tem entusiasmo nenhum para sair de casa. Mas ultimamente eu tenho refletido muito sobre o significado do trabalho e eu tenho olhado para a vida da minha mãe com um outro olhar…

É tão desanimador ver tantas pessoas infelizes com o trabalho que fazem o dia todo, a maior parte dos dias. Tantas pessoas tentando trabalhar com algo que claramente não foram feitas para fazer, tentando se tornar alguém que nunca deveriam ser… Isso nunca aconteceu com minha mãe! Ela foi abençoada com a oportunidade de fazer o que mais amava e algo no qual ela, sem dúvidas, se destacava: cozinhar!

Sua generosidade, sua excelência, sua expertise e sua alegria em compartilhar uma boa comida com as pessoas ao seu redor tiveram um grande impacto na minha vida e eu espero que este blog se torne um canal onde eu possa compartilhar os incríveis conhecimentos e valores que aprendi com ela. Porque seria um desperdício manter tudo o que aprendi só para mim mesma…

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